Engana-se quem ainda pense que para ser chic seja necessário abrir mão da simplicidade.
Ora, sejamos avançados e pensemos que a simplicidade seja o avesso da complexidade e, portanto, trata-se da forma mais leve de ser, tão somente. De igual maneira, segue enganado aquele que pensa que ser chique seja uma questão de aparência.
Ao contrário, é uma questão de conteúdo, algo que emana do interior das coisas ou pessoas, muito mais do que a mera expressão de uma imagem inócua. É o que de arte existe na estética, esta última enquanto teoria do conhecimento sensível.
Partindo do vocábulo original francês chic e objetivando uma concentração à essência do termo, ser chique quer significar algo próximo a ser elegante sem excessos, ser formoso sem ser rebuscado, ser bonito sem fazer por onde, ser fino sem ser esnobe. Do alemão medieval schikken (por vezes, até mesmo do holandês) extrai-se a noção de organização com adequação, sem alardes, que amplia e aprofunda o conceito.
Nada de formalismos, nada de teatralidades, nada de futilidades, esnobismos e indiscrições. Nada de egocentrismos. Simples, assim.
A elegância discreta é aquela que não precisa fazer força para saltar aos olhos ou ser percebida. A simplicidade, por conseguinte, é a elegância sem afetação, enfim.
Parece, a olhos vistos, que um sem número de pessoas pelo mundo descobriu ou redescobriu, emergentemente, os significados mais naturais destas expressões, buscando associá-las entre si e, assim, gerar um conceito mais do que moderno. Simples e de vanguarda, que beleza!
Em sua fruição pelas cidades, silenciosamente (mais uma vez, sem fazer alarde) indivíduos descrevem sua trajetória. Um resumo sem retoques. E para quê mais?
Excluindo-se a competitividade, a simplicidade inerente ao ser chique deveria ter se tornado, há décadas, um vocábulo único, por sorte ou merecimento.
O chique, vale reforçar, se distingue daquilo que se esforça em sê-lo. Por extensão, o chique não tem compromisso em provar nada senão para si mesmo. Característica, esta, que compõe o ser autêntico.
Se regressarmos à simplicidade da qual falava ao início desta reflexão, nela subsiste a essencialidade de coisa ou pessoa.
Os argonautas da simplicidade surgem, diversamente, pelas esquinas ou nos entremeios dos quarteirões, assim, de súbito, tornando a cidade um ambiente de estar simplesmente. Ornados em seu estilo se bastam, de tal forma que seja por uma flor, bolsa, alforje, chapéu ou por uma sombrinha colorida, ainda mais pelo que falam, por seus gestos e sua forma de consumir, causam surpresa, tal a simplicidade.
O simples é, sem dúvida, a mais verdadeira expressão do real, daquilo que é concreto em si. Em um mundo de tantas aparentes ilusões, de imagens revelando conteúdos vazios ou dispensáveis, ser simples é ser real, sem fingimentos.
Ao vê-los, os simples em essência, resta-nos no segundo seguinte a pausa, uma nota breve, um silêncio de suspiro e inspiração.
Corroborando a nós mesmos e para finalizar a reflexão, destaco uma frase que me chamou a atenção minutos atrás. Selecionei na playlist que estava ouvindo para compor este texto, aquela linda e simples canção do Fernando Alitelli e do Leoni, interpretada pelo grupo Teatro Mágico, de nome “Nas margens de mim”, que diz assim: “...que no fundo é simples ser feliz, difícil é ser tão simples. Difícil, mesmo, é ser”.